M I T O
MILTON NASCIMENTO, revisita suas canções em turnê mundial para nos dizer que essas serão suas últimas apresentações ao vivo. Seus 60 anos de carreira e imenso sucesso não conseguem dar conta da dimensão musical da obra e do alcance de suas extraordinárias criações.
ENCONTROS E DESPEDIDAS
Mande notícias do mundo de lá
Diz quem fica
Me dê um abraço venha me apertar
Tô chegando
Coisa que gosto é poder partir sem ter planos
Melhor ainda é poder voltar quando quero
Todos os dias é um vai-e-vem
A vida se repete na estação
Tem gente que chega pra ficar
Tem gente que vai pra nunca mais
Tem gente que vem e quer voltar
Tem gente que vai querer ficar
Tem gente que veio só olhar
Tem gente a sorrir e a chorar
E assim chegar e partir
São só dois lados da mesma viagem
O trem que chega
É o mesmo trem da partida
A hora do encontro é também despedida
A plataforma dessa estação
É a vida desse meu lugar
Milton Nascimento
A originalidade e a sensibilidade de suas observações descrevem a plataforma da estação como vida. A oralidade com que ele desenvolve este diálogo, transforma-o em comunição direta com a audiência, e neste ofício, MILTON NASCIMENTO sempre toma assento de destaque na construção da identidade contemporânea brasileira. Esta proximidade identitária é prova material, em nossa interpretação, de que essas apresentações não serão um adeus, já que MILTON é cativo em nossas inspirações. Bituca, como gosta de ser chamado, seguirá criando suas canções longe dos palcos e com certeza aprofundando nossas conexões com este verdadeiro mito brasileiro, em um show que não conhece fim.
Trazendo um pouco de literatura para este encontro com MILTON NASCIMENTO, gosto de entender o artista como a personificação dos diálogos de Diadorin & Riobaldo, personagens centrais no clássico de GUIMARÃES ROSA, Grande Sertão: Veredas. Resoluções existênciais universais ao rés do chão, que só uma sensibilidade ímpar, presente em ambos, é capaz de captar em verso, prosa e músicas cristalinas.